As crianças
fotografadas por Adriana Duque são personagens de uma cena teatral, uma
quase-pintura, que desafia a ideia comum de que a fotografia é um documento
inquestionável. Os cenários são construídos, a luz é calculada, as roupas são
confeccionadas especialmente para a foto, e os olhos azuis das crianças são
adicionados na pós-produção digital. No entanto, nos encantam pela mágica da
verossimilhança, por serem imagens que poderiam ser, mesmo que saibamos que
não são, fieis a algum real.
Adriana Duque exacerba a
manipulação de nossa crença perante a imagem. Ao citar o século 17 nos
contrastes de claro e escuro e na rica ornamentação das vestes e mobílias,
Duque nos coloca também em contato com a história da arte latino-americana,
que violentamente viu a arte nativa ser substituída pela arte então em vigor
na Espanha. As crianças das fotografias podem ser um retrato de uma arte
ainda na infância, que tenta crescer, mas mantém-se ligada a um começo
artificialmente barroco, que a criança traveste sem questionar, com fones de
ouvido que abafam qualquer som crítico, e as mantém olhando para a câmera,
sem que vejam, ao fundo, o interior genuíno, simples, de uma casa real.
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário