A TRANSIÇÃO
Lizete Zem
Em
íntima conexão com processos de distintas naturezas, a artista Lizete Zem
realiza composições nas quais se manifestam as passagens, cujo sentido
inerente vincula-se à relação entre o passado e o presente, mas também pode apontar
para o atemporal.
O
elemento primordial que descreve tanto seu processo quanto seu conjunto de
obras consiste, portanto, na TRANSIÇÃO, que acontece por meio de diferentes
aspectos.
Num
primeiro sentido, transição possui caráter amplo e conceitual.
Refere-se, mais precisamente, à mudança poética da obra como um todo, e muito
bem marcada pelas peças de cerâmica expostas nessa mostra de 2022, no Museu Guido
Viaro.
Nessas
peças estão contidos resquícios de reflexões anteriores sobre os orgânicos, que
trazem, em essência, as concepções de estrutura e base consistente, vinculadas
à natureza corpórea e simbolizadas por formas ósseas, tons de vermelhos terrosos
ou sanguíneos, assim como, pela terra propriamente dita. Agora, rompidas com quaisquer
bases sólidas, as peças sugerem-se em conjunto como uma estrutura flexível e,
por conseguinte, passível de ser modificada.
Mobilidade
tal que surge com muita força nas pinturas mais recentes, inaugurando o
trabalho pictórico com as velaturas. Em consonância com a atmosfera sutil, ao
invés da terra, a base que se apresenta no chão, abaixo das composições
pictóricas, consiste na esvoaçante areia, sugerindo a ideia de vínculos entre
matérias mais delicadas.
Quando
finalizadas, as composições pictóricas, cada qual a sua maneira, oferecem ao
espectador a possibilidade de perceber as variadas perspectivas e formas
produzidas pelas passagens entre os campos cromáticos e transparentes, e,
portanto, de conduzir simultaneamente quem as bem observa ao encontro com atmosferas
delicadas e espaços transcendentes, como espécies de labirintos, portais, etc.
Enfim,
na presença imediata do que há de mais sutilmente sensível e, por que não
dizer, naturalmente mágico, indagamo-nos se seria possível algo mais nos
surpreender nesta exposição: “Pergunte ao vento”...
Ana Carolina Mondini é Dr.ª em Filosofia e Crítica de Arte – Curitiba, 2022
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