Um Lixo só Por Leo Soltz*
Acostumados no passado a
adquirir bens de consumo para durar, os brasileiros vêm sendo perseguidos por
um novo movimento de consumo que já traz grande preocupação a especialistas e,
em um futuro bem próximo, a todos nós.
O descarte indiscriminado de
lixo.
Todos os anos, pesando nesta
balança apenas os dados ligados a e-waste,
que quer dizer lixo eletrônico, o universo do descarte ultrapassa os 150
milhões de toneladas / ano. A cada troca de celular por um novo “modelito” geramos
mundialmente uma substituição de 1,5 bilhões de celulares. A partir daí, 50
milhões de toneladas são expostas ao mesmo fim. O Lixo.
Sem entrar no mérito da toxicidade deste ato,
estamos diante de um expressivo problema. Os maiores produtores de lixo
tecnológico reciclam apenas 30% do seu consumo. A mais expressiva parte deste
bolo é exportada para países em desenvolvimento com o pretexto de iniciarem seu
caminho tecnológico na famosa “inclusão social”. Recebem de fato um “presente
de grego” das grandes potencias. É vergonhoso. Até bem pouco tempo atrás, o
Brasil fazia parte do destino de tais carregamentos.
Além destes dados que
precisam ser pesados e repensados por nós, como parte desta sociedade de
consumo é importante rever nossos pontos de vista quando algum aparelho
eletrônico estraga em nossa casa. Um forno com a resistência queimada, uma torradeira
que perdeu a mola, uma TV com pequena falha em alguma fiação, um liquidificador
que parou do nada. Tudo se torna motivo para uma troca e um descarte. No lixo.
Este estado de indução e
reação cega ao meio em que vivemos, incluindo a falta de interesse em consertar
tais produtos, nos leva a participar ativamente desta estatística dura e cruel
que envolve o tema.
“É mais fácil comprar um novo em 10 vezes sem
juros e sem o trabalho de localizar e levar à algum fornecedor ou assistência
técnica que possa resolver nosso problema”, dizem alguns.
Cômodo não é mesmo?
Por outro lado o Governo Federal
e ainda municípios e estados apresentam soluções inócuas e de poucos incentivos
para o processo de reciclagem eletrônica - uma das possibilidades de resolução
parcial do problema. O que apresentam é apenas uma medida do Conselho Nacional
do Meio Ambiente que obriga as empresas a fornecerem condições de recebimento
de pilhas e baterias em locais públicos.
Mas quem vai até estes
lugares para depositar tais produtos se não existe uma consciência firme do
problema e programas sérios de reciclagem em funcionamento?
O e-waste é formado em grande parte por eletrodomésticos e
refrigeradores seguidos de equipamentos de comunicação, monitores e TVs. A
expectativa, para piorar o cenário é de mais um bilhão de computadores a serem descartados
no próximo ano. Ao todo chegam aos nossos lixões e aterros mais de 250 mil
toneladas de lixo diverso, diariamente. Deste total quase 40% são depositados
em áreas, sem qualquer tratamento e correto acondicionamento.
Continuando assim, aqui em
Minas, as montanhas não conseguirão esconder por muito tempo esta realidade e o
lixo estará solto por aí, visível em nossas esquinas.
Parte de nossa paisagem.
Leo Soltz*
*Leo Soltz é empresário nos setores de tecnologia e
entretenimento. leonardo@soltz.com.br