sexta-feira, 22 de março de 2013

Novo texto de Leonardo Soltz


Um Lixo só Por Leo Soltz*
Acostumados no passado a adquirir bens de consumo para durar, os brasileiros vêm sendo perseguidos por um novo movimento de consumo que já traz grande preocupação a especialistas e, em um futuro bem próximo, a todos nós.
O descarte indiscriminado de lixo.
Todos os anos, pesando nesta balança apenas os dados ligados a e-waste, que quer dizer lixo eletrônico, o universo do descarte ultrapassa os 150 milhões de toneladas / ano. A cada troca de celular por um novo “modelito” geramos mundialmente uma substituição de 1,5 bilhões de celulares. A partir daí, 50 milhões de toneladas são expostas ao mesmo fim. O Lixo.
 Sem entrar no mérito da toxicidade deste ato, estamos diante de um expressivo problema. Os maiores produtores de lixo tecnológico reciclam apenas 30% do seu consumo. A mais expressiva parte deste bolo é exportada para países em desenvolvimento com o pretexto de iniciarem seu caminho tecnológico na famosa “inclusão social”. Recebem de fato um “presente de grego” das grandes potencias. É vergonhoso. Até bem pouco tempo atrás, o Brasil fazia parte do destino de tais carregamentos.
Além destes dados que precisam ser pesados e repensados por nós, como parte desta sociedade de consumo é importante rever nossos pontos de vista quando algum aparelho eletrônico estraga em nossa casa. Um forno com a resistência queimada, uma torradeira que perdeu a mola, uma TV com pequena falha em alguma fiação, um liquidificador que parou do nada. Tudo se torna motivo para uma troca e um descarte. No lixo.
Este estado de indução e reação cega ao meio em que vivemos, incluindo a falta de interesse em consertar tais produtos, nos leva a participar ativamente desta estatística dura e cruel que envolve o tema.
 “É mais fácil comprar um novo em 10 vezes sem juros e sem o trabalho de localizar e levar à algum fornecedor ou assistência técnica que possa resolver nosso problema”, dizem alguns.
Cômodo não é mesmo?
Por outro lado o Governo Federal e ainda municípios e estados apresentam soluções inócuas e de poucos incentivos para o processo de reciclagem eletrônica - uma das possibilidades de resolução parcial do problema. O que apresentam é apenas uma medida do Conselho Nacional do Meio Ambiente que obriga as empresas a fornecerem condições de recebimento de pilhas e baterias em locais públicos.
Mas quem vai até estes lugares para depositar tais produtos se não existe uma consciência firme do problema e programas sérios de reciclagem em funcionamento?
O e-waste é formado em grande parte por eletrodomésticos e refrigeradores seguidos de equipamentos de comunicação, monitores e TVs. A expectativa, para piorar o cenário é de mais um bilhão de computadores a serem descartados no próximo ano. Ao todo chegam aos nossos lixões e aterros mais de 250 mil toneladas de lixo diverso, diariamente. Deste total quase 40% são depositados em áreas, sem qualquer tratamento e correto acondicionamento.
Continuando assim, aqui em Minas, as montanhas não conseguirão esconder por muito tempo esta realidade e o lixo estará solto por aí, visível em nossas esquinas.
Parte de nossa paisagem.
Leo Soltz*
*Leo Soltz é empresário nos setores de tecnologia e entretenimento. leonardo@soltz.com.br

Ricardo Ramos no BADESC

Não caço mais dragões - Alessandro Martins



NÃO CAÇO MAIS DRAGÕES


Um dragão chinês entrou pela porta do corredor, passou meu quarto, saiu pela janela em direção às montanhas da serra do mar, não sem antes me arrebatar com seu hálito de fogo, que me despertou por completo.
Corri para a varanda para vê-lo mais um pouco. Era verde com escamas vermelhas, mas a sua fuga, em direção ao sol ofuscante recém-nascido, impediu-me de ver mais detalhes, tais como se tinha marcas de nascença, se tinha quatro, seis ou oito patas, como eram suas orelhas e se tinha tiques nervosos.
Mesmo a minha afirmação quanto ao fato de ele ser um dragão chinês é mera suposição. Não tive tempo de lhe perguntar a nacionalidade. Apenas supus. Afinal parecia mais com uma serpente que com um dinossauro, como é o caso dos dragões medievais. Porém essa impressão pode estar errada. Já tive um amigo cujos pais eram chineses. Ele tinha olhos como os dos chineses, cabelo como tal e o rosto no formato respectivo. Mas era de Nauru. Logo mantive a hipótese, enquanto observava aquilo que agora, à distância, mais parecia um fiapo a se contorcer no horizonte, que podia ser um dragão chinês, mas nascido em outro país que não a China.
Foi assim que me tornei caçador de animais mitológicos.
Logo aprendi que certos sentimentos que buscamos sentir são dragões chineses.
O amor, esquimós, árvores
A linguagem é condicionada pela realidade.
Os esquimós têm umas sete ou oito palavras diferentes para designar a neve de acordo com suas características. O que para nós, não-esquimós, é apenas uma monótona vastidão branca, para eles é diversidade, uma variedade que sabem identificar, classificar, nomear e detalhar.
Para ler todo o texto acesse: http://alessandromartins.me/nao-caco-mais-dragoes/



 

Amor e Neve - Alessandro Martins


AMOR e NEVE

A linguagem é condicionada pela realidade.

Os esquimós têm umas sete ou oito palavras diferentes para designar a neve de acordo com

 suas características. O que para nós, não-esquimós, é apenas uma monótona vastidão 

branca, para eles é diversidade, uma variedade que sabem identificar, classificar, nomear e 
detalhar.

No entanto, conhecem pouco as árvores e, por isso, chamarão uma figueira, um eucalipto e 


um carvalho apenas de árvore, sem talvez perceber que há uma diferença entre elas, assim 

como nós em relação às diferentes neves, cujas particularidades são tão evidentes para eles.

Os esquimós estão em um mundo de neve, cercados por neve, convivendo com a neve e, 


por isso, a conhecem em sua diversidade. Nós não chegamos a estar cercados de árvores, mas conhecemos também suas diferenças.

Nós, esquimós e não-esquimós, no entanto, chamamos muitas coisas diferentes por um único nome: amor.

Possivelmente, em nosso convívio não haja tanto amor quanto neve no Alasca. E talvez por


 isso não tenhamos nomes diferentes no nosso cotidiano para cada uma de suas inúmeras 

possibilidades.

Quem sabe, sequer exista tanto amor quanto árvores nas grandes cidades. E há tão poucas árvores por aí.

Talvez eu veja neve. Mas na verdade é sal.