domingo, 22 de setembro de 2013

Tiago Mestre e Adalgisa Campos na Galeria Virgilio


Em exposições na Galeria Virgilio, obras de Adalgisa Campos e Tiago Mestre
propõem “arqueologia” dos processos criativos
Em cartaz a partir de 10 de setembro na Galeria Virgilio, as últimas produções da brasileira Adalgisa Campos e do português Tiago Mestre ocupam espaços distintos na Virgilio, com reflexões sobre o fazer artístico. 

A Galeria Virgilio recebe no próximo dia 10 de setembro (terça-feira), a partir das 20 horas, duas exposições individuais dos artistas plásticos Adalgisa Campos e Tiago Mestre. Com universos de investigação e plataformas estéticas peculiares e distintas, as duas mostras aproximam-se na reflexão contemporânea sobre os modos do fazer artístico.
Com curadoria de Paulo Miyada do Instituto Tomie Othake, “Speech” de Tiago Mestre propõe uma discussão sobre a experiência da recepção da obra de arte e o seu valor no contexto institucional. “Conjuntos discretos” da paulistana Adalgisa Campos recoloca o questionamento da obra de arte estética, não como produto final, mas uma travessia, um processo entre as experiências emotivas do artista e a escolha da matéria-prima.

TIAGO MESTRE
“Speech simultaneamente alimenta e frustra as expectativas que lançamos sobre os artefatos culturais. Na produção de Tiago Mestre, escultura, maquete, projeto e pintura formam um arcabouço de imagens em suspense, à maneira de objetos que são apresentados como relíquias, mas sobre os quais não se sabe exatamente a origem e o significado.” - Paulo Myiada, curador da exposição.
Com primeira exposição em São Paulo, o trabalho de Tiago Mestre na exposição “Speech” para a Galeria Virgilio, dá continuidade reflexiva e amadurece alguns dos temas da sua primeira exposição em solo brasileiro, realizada no Rio de Janeiro no ano de 2012.
Intitulada “Secret life of material”, a exposição realizada no Espaço Cultural Sergio Porto, em parceria com Flávia Vieira, questionava a bíos (vida) e os pressupostos culturais em torno da materialidade da obra. Se a indagação era: “possuem os objetos materiais uma personalidade própria?”, em “Speech” inaugura-se uma nova fase, que se debruça sobre a questão da exposição enquanto discurso e ficção.
"Speech" aborda também o papel das instituições enquanto representações de poder. Reflete sobre o modo como a arqueologia e a própria história de arte vinculam uma leitura do passado e do presente dos povos e países e sobre o modo como os museus se assumem como mediadores de uma Cultura “Oficial” e “Erudita”, reflete Tiago Mestre.
"Speech" abre com um pequeno azulejo do século XV, de proveniência hispânica. Uma loseta de Manises (Valência) pertence a um lote de azulejos decorativos levado para o sul de Portugal por encomenda da família real no reinado de D. Afonso V. Numa das suas faces deparamos com elementos heráldicos e vegetais coerentes com o programa ornamental deste tipo de peças, no verso (talvez oculto durante séculos) um rabisco despreocupado e caricatural do que parece ser a silhueta de uma mulher feito por mãos desconhecidas. Seria a história da arte, também, uma história do silêncio?
Transitando entre pintura, vídeo, escultura e assemblage a exposição questiona com humor, o destino das representações nas esferas institucionais e de poder da arte atual.
“At the Museum”, animação stop motion, mostra um personagem de massinha, que deambula pelo espaço expositivo de um museu, deparando-se com obras das mais diversas feições e proveniênvias. A sua experiência perante cada uma das obras é tipificada, apática e sistemática, repetindo-se num número interminável de situações.
A transgressão ultrapassa a sala da galeria. Na obra-escultura “Inhotim”, cinco conjuntos de objetos passariam despercebidos, não fossem contextualizados através da narrativa do próprio artista. Em visita recente ao museu mineiro, Tiago apropriou-se de pequenos objetos pertencentes a instalações de artistas como Hélio Oiticica, Neville D´Almeida, Cildo Meireles e Marilá Dardot, etc. O resultado é um conjunto que articula a disparidade formal entre os objetos, ressignificando-os à luz do tema da exposição.
Ainda no campo da escultura, obras como “Vitrine”, uma prateleira com objetos anônimos tensionados em relação ao próprio dispositivo que os apresenta; “O duplo”, um simples prego perfurando um pedaço de madeira que se vê replicado através de um processo de fundição em bronze; “Romance”, dois plintos de madeira com configurações e acabamentos diferentes que se vêem personificados através de uma hipotética relação passional. Destaque para “Speech”, obra que titula a exposição, escultura em argila, a cabeça de um homem negro, com olhos e boca em estado de exaltação. Único objeto declaradamente figurativo na exposição apoia-se em um pedestal que o eleva á altura do espectador, afirmando-o como figura totémica ou amuleto face a todo o espaço da sala.
As pinturas, a óleo sobre tela, apresentam situações de um abstracionismo calculado, evidenciando a preocupação construtiva (e até especulativa) de Tiago Mestre, e ficcionando acerca de uma hipotética função utilitária.
Paralelamente é posta em perspectiva a questão da recepção do trabalho: se nalgumas pinturas se evidenciam questões ligadas à perpetuação de gêneros tradicionais (natureza morta, paisagem) noutras levanta-se a possibilidade (em jeito de ficção) do uso da pintura como instrumento ou suporte projectual (ou meramente prospectivo) entrando num campo de realização que alterna entre o registro do real e estudos vagos para hipotéticas construções de naturezas várias (arquitetônica, de design, histórica, arqueológica).
Em qualquer dos mediums ou suportes o trabalho autoral de Tiago Mestre - como a cortina de entrada na sala da exposição já prenunciava - é uma encenação do visível e do invisível. Visível como história da arte e sua relação com os homens e o tempo de cada sociedade. Invisível, pois celebra o sentido de encontro primitivo entre o pensamento do artista que concebe e o poder que possui uma matéria, em transformar essa mesma ideia (eidos) em forma material, recriando então, novos espaços de narrativas e de história.

ADALGISA CAMPOS
“Conjuntos discretos”, primeira individual de Adalgisa Campos na Galeria Virgilio vincula a experiência da artista no cotidiano com a escolha dos materiais para o “fazer” artístico.
Partindo de um arquivo pessoal, intitulado de coleções de medidas, mantém uma inquietação e uma urgência ao se relacionar com espaços reais. Essa necessidade transformou-se em material de investigação. Ao visitar uma galeria, um quarto ou passar por uma simples calçada a artista realiza uma medição, com instrumentos ou utilizando o próprio corpo destes espaços, que servem, futuramente, como suporte para a materialização de suas obras.
Cria-se então, um espaço de memória, uma espécie de topografia ou mapas pessoais da relação entre geografia do espaço, do corpo e o desejo em recriar estas imagens-medidas em pequenos e poéticos desenhos, em suportes como papel vegetal, milimetrado e quadriculado.
Na exposição para a Galeria Virgilio, a artista proporciona um olhar para uma profusão de desenhos, que parte das coleções de medidas, e outros que investigam a peculiaridade das formas. Na série Estruturas, interessa o inacabado gesto e as formas que compõem vegetais, a partir de um trabalho de observação. O inusitado irrompe neste processo de observar e dissecar infinitamente cada detalhe que compõe a figura observada na natureza. O resultado é uma apuração do olhar, do traço e a revelação da simetria que existe entre um gesto considerado “natural” e o gesto recriado pelas mãos do artista, até o momento de apropriação das formas originais. O desenho sendo instrumento de conhecimento, procura fixar na memória o que é impermanência na natureza.
Destaque as séries de vídeos Desenhos de Memória e Tabula Rasa. Neles, assistimos a mão do artista desenhar formas recorrentes, a giz sobre uma pequena lousa ou com ponta seca sobre uma superfície de massa de modelar. A cada imagem formada, a mesma mão que produz apaga o desenho, recomeçando o processo e dando o sentido em refazer novamente o caminho ou a travessia. A preocupação em desenhar, fixar na memória e no tempo e apagar mostra o interesse na simbólica do gesto.
O trabalho e a estética de Adalgisa Campos encontram-se nas confluências, na escolha apurada do material - intimamente ligado ao espaço que foi medido - e o seu processo. Irrompe qualquer tentativa de agrupar estes encontros em um resultado pré-estabelecido do que seja uma obra de arte. A obra torna-se não apenas o que resulta, mas principalmente, o que antecede qualquer significação.
As exposições de Adalgisa Campos e Tiago Mestre ficam em cartaz de 10 de setembro a 5 de outubro na Galeria Virgilio, com entrada gratuita.

Sobre a Galeria Virgilio
Izabel Pinheiro, atuando no mercado de arte desde a década de 80, inaugura em 2002 a Galeria Virgílio, que se apresenta no mercado de arte direcionada à produção de artistas jovens contemporâneos e artistas surgidos principalmente a partir dos anos 80, que consolidaram presença no cenário da arte brasileira.
Nosso calendário contempla a produção de arte que marcou, no Brasil, o perfil da contemporaneidade e define parâmetros para a nova geração.
A Galeria Virgílio pretende, assim, fornecer elementos para formação de critérios que possam orientar o mercado de um ponto de vista da cultura e da produção de valores, bem como a criação de parâmetros para a formação do mercado e de seus desdobramentos.
Visamos orientar a aquisição de obras e a formação de coleções, além de dar visibilidade ao artista, acompanhando seu percurso e fornecendo suporte para integração de sua obra nos contextos institucional e de marcado, nacional e internacional.





Exposições de Adalgisa Campos e Tiago Mestre
Abertura: terça-feira, dia 10 de setembro, às 20 horas
Período expositivo: de 10 de setembro a 05 de outubro de 2013

Local: Galeria Virgilio
Endereço: Rua Virgílio de Carvalho Pinto, 426
CEP 05415-020, Pinheiros, São Paulo - SP
Telefone: (55 11) 2373.2999
Horários: de segunda a sexta, das 10 às 19h; e sábados, das 10 às 17h
Entrada franca e livre.

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