José Carlos Fernandes, amigo de sempre, escreveu o texto de abertura da Exposição
27 ANOS DE ARTES VISUAIS - LUIZ ARTHUR MONTE RIBEIRO.
Grato prezado José Carlos, muito grato pelo carinho e dedicação ao escrever este belíssimo texto.
O
trabalho que dá o desejo de mar
Nos seus dias de menino
dos Campos Gerais, Luiz Arthur Montes Ribeiro queria ver o mar. Quem sabe,
mudar-se para lá. Como o mar estava longe, arrumou um jeito de trazê-lo para
perto. Primeiro o fez com as palavras. Depois com desenhos. Pediu ajuda aos
pincéis. Por fim, apelou para a imaginação, que passou a acompanhá-lo de uma
vez por todas. Criar é seu “discurso do método” – a maneira mais rápida de
trazer uma onda rendada para junto do dedão dos pés.
Quase 30 anos passados,
percebe a viagem que fez, a gramática que inventou. Mesmo quando pintava
pinheiros-do-paraná – dever de casa de todos os que aqui nascem –, via-os
“copas de luz” brotando das areias, em ilhas de mel e natureza de superaguis. Deu-se
conta que galgou fronteiras internacionais, desafiou regras cósmicas, provou de
todas as artes – qual um renascentista com 72 TDAHs à flor da pele. Seu caso, sem
remédio em toda a medicina. De tudo, gosta. O que não conhece, deseja.
Endoidece. Pudores não falam a língua dos curiosos.
De pecado em pecado,
virtude em virtude, acumulou tantos e tamanhos saberes que deixa basbaque o
público. Trânsito. Esperanto. Confeitaria. Poesia. O que mais? Perguntem a ele
e ao ouvirem a resposta, recolham seus queixos do chão. Depois, tomem prumo. Tudo
o que faz, creiam, é faina de um operário padrão para chegar... ao mar. Ama uma
farofa no feriado, a vida selvagem de uma excursão. Tanto quanto, um jantar à
luz de velas, nos quais dará nomes aos peixes – em francês. Não importa a
pompa, a pose ou os decibéis de sua gargalhada: em qualquer caso, é sempre um
guri querendo se esbaldar de areia e maresia.
O mar é sua terra sem
males. Vê-o de dentro – nas algas e na coreografia das águas, que nunca lhe
parecem turvas. De fora – enxerga uma linha de horizonte tingida de laranjas,
bêbada de paixão. De dentro, o verso íntimo das ondas. Esse vaivém sem censura
lhe permite tudo – usar do sangue, do sêmen, do brinquedinho da loja de R$
1,99. Cola a humanidade sobre as superfícies e nela faz composições, das
literárias às musicais. Chama-as de aquarelas, que tantos batizam de pinturas.
E Arthur, para encurtar a prosa, decreta que são textos, sobretudo.
“Tudo começa na palavra”,
repete, qual um criador de mundos. Mas antes de um cara dado ao divino gesto de
inventar, diga-se, ele é um sujeito contente, desses que cultiva plantas,
peixes, aves e águas nos quintais. Bola um elemento a cada feira da semana. Vê
que tudo é bom. No último dia, dispensa a folga. Dá muito trabalho trazer o mar
para perto, para que banhe a vida real.
José
Carlos Fernandes, jornalista.
"De pecado em pecado, virtude em virtude, acumulou tantos e tamanhos saberes que deixa basbaque o público. Trânsito. Esperanto. Confeitaria. Poesia".
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