Adeus, Chacon
Quem visita Mallet, geralmente a caminho das águas sulfurosas Dorizzon, é informado que ali nasceu o famoso pintor Miguel Bakun.
Agora, ao ícone da cidade de 14 mil habitantes, no Sudoeste do Paraná, deve-se
somar o ator e humorista Chacon Jr, que nasceu às 3h da madrugada do dia 3 de
julho de 1941 e morreu ontem, assistido pela esposa Valquíria e pela filha
Débora, em seu apartamento do 29º andar do Edifício Tijucas, na Boca Maldita.
O corpo será velado na capela do Cemitério da Água Verde.
Chacon Jr ficou conhecido nacionalmente como sósia e dublador de Roberto
Carlos. Era amigo do Rei, atuou ao lado de Ratinho, pai, e de Ari Fontoura,
Sale Wolokita, Jane Martins, Maurício Távora e outras estrelas do teatro
paranaense – e foi discreto participante da resistência à censura de 1964.
Era dele, nos anos 1970, a voz do hipopótamo Górgias, que previa o tempo no
Show de Jornal do Canal 4, TV Iguaçu, do Grupo Paulo Pimentel e era a válvula
de escape para notícias que a ditadura não queria que chegassem ao público. O
nome Górgias era uma homenagem ao filósofo sofista grego morto em 380 AC, cujos
escritos pareciam falar sobre a repressão brasileira. “Nada existe; se
existisse, não poderia ser conhecido; se conhecido, não deveria ser
comunicado”. Certa noite, o Górgias do Chacon Jr entrou no ar e previu: “Amanhã
tomem cuidado, é dia de tempestade. Raios e turbulência sobre o Paraná”. No dia
seguinte saiu nova lista de políticos cassados, cuja divulgação o major da
censura tinha proibido.
Chacon dividia os amigos em dois grandes grupos. No primeiro, estavam aqueles
que chamava pelo nome. No segundo, os mais íntimos mereciam a designação carinhosa
de “marginá”.
Eu, com muita honra, cheguei a marginá.
Adherbal Fortes de Sá Junior é jornalista, autor e Imortal da Academia
Paranaense de Letras
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