Confissão
Vou te revelar um segredo: a minha afeição
Tenho medo que não entendas, que passe despercebida
esta minha linguagem atrapalhada de mares e tempestades.
Eu te amo – amor louco, violento, sensível, assassino.
Não trago flores, palavras, desenhos de madrugadas.
Tudo em mim tem gosto, cheiro, dobras
de suor e cicatriz.
Tenho silêncios e facas nuas,
punhais, vidraças, pulseiras,
telhados banhados de luz.
Tenho um fastio terrível da vida,
enorme cansaço,
vontade de morrer.
Eu te amo e te amar representa vida,
alegria desconhecida, vendaval, esperança
apesar dos meus olhos sem brilho,
madrugadas mortas, minha boca muda.
Verso de folhetim
Quando perguntam de mim sorrio,
desconverso
e fico a pensar que desejam
essas pessoas querendo saber
como estou?
Continuo na mesma:
morando em quarto alugado
de estreitas paredes úmidas;
dinheiro mal dando pro cigarro,
poucas noites de anarquia.
O jornal concede vales
todo mês, no dia 15,
Joana encontrou outro homem,
diz que melhorou de vida.
O espelho me reflete:
olheiras fundas, escuro sono
atrás dos olhos.
A faxineira me acorda
batendo toda manhã
com a vassoura na porta.
No cesto de lixo,
amassadas,
poesias que escrevo
no correr das madrugadas.
A mulher reclama
dos papéis respingados d’água
quando lavo o rosto e saio
arrastando pelas pernas
tristes poemas cansados.
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