sexta-feira, 22 de março de 2013

Amor e Neve - Alessandro Martins


AMOR e NEVE

A linguagem é condicionada pela realidade.

Os esquimós têm umas sete ou oito palavras diferentes para designar a neve de acordo com

 suas características. O que para nós, não-esquimós, é apenas uma monótona vastidão 

branca, para eles é diversidade, uma variedade que sabem identificar, classificar, nomear e 
detalhar.

No entanto, conhecem pouco as árvores e, por isso, chamarão uma figueira, um eucalipto e 


um carvalho apenas de árvore, sem talvez perceber que há uma diferença entre elas, assim 

como nós em relação às diferentes neves, cujas particularidades são tão evidentes para eles.

Os esquimós estão em um mundo de neve, cercados por neve, convivendo com a neve e, 


por isso, a conhecem em sua diversidade. Nós não chegamos a estar cercados de árvores, mas conhecemos também suas diferenças.

Nós, esquimós e não-esquimós, no entanto, chamamos muitas coisas diferentes por um único nome: amor.

Possivelmente, em nosso convívio não haja tanto amor quanto neve no Alasca. E talvez por


 isso não tenhamos nomes diferentes no nosso cotidiano para cada uma de suas inúmeras 

possibilidades.

Quem sabe, sequer exista tanto amor quanto árvores nas grandes cidades. E há tão poucas árvores por aí.

Talvez eu veja neve. Mas na verdade é sal.

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