domingo, 23 de maio de 2010

Thomas: o sonhador


Hoje amanheci de bem com vida, como quase todos os meus amanhã-seres. Levanto, vagarosamente, para poder espreguiçar-me e contemplar, da ampla janela do meu quarto que fica em frente a cama que durmo, o mar: ah... este sedutor mar de azuis, verdes e marrons.


Vou ao banheiro, tomo uma ducha e lentamente mudo a temperatura da água para quente, não muito quente, apenas o necessário para revigorar meu corpo. Jogo sobre ele um sabonete líquido para poder ensaboar-me com maior prazer e deixá-lo cheiroso para a minha namorada poder tocá-lo e juntos desfrutarmos de momentos generosos naquela imensa cama que tem vista para o mar. 

E não há nada que possa ser mais reconfortador, antes e depois do amor, ou da possibilidade de vivê-lo  do que uma ducha, ao tempero de nosso estado de espírito: quem sabe, fria para os dias em que a temperatura interna de nossos sentidos e emoções alcança níveis inimagináveis e/ou indesejáveis. Aí água fria significa por em alerta a prudência. Já a água quentinha...

Navego na esplêndida paisagem que se desnuda em minha frente, esse mar que encanta e amedronta, e navego também na imaginação quase insana da expectativa da sua presença. Uma presença incerta. Sem confirmação. Espero por você todos os segundos de minha vida. Imagino a todo momento a sua presença aqui comigo nesta linda praia. Você esteve aqui somente um vez. Ah... meus desejos por você são incontroláveis, venha, marque presença, confirme sua vida à minha. 

É assim  que em seu caderno de anotações, Thomas registra as impressões dos dias e das noites - que são muitas e que vão longe -  sobrevividos à ausência de Thereza. Pergunta-se reiteradamente, como pode a intensidade das lembranças que ocupam desasossegadamente seu coração de um amor que fora tão breve? 

Thereza! Ah, Thereza! Espevitada e maliciosamente perspicaz! Invadiu o coração e o corpo de Thomas. A plenitude do momento em que vivenciaram quando ela cedeu aos recônditos desejos dele, ficaram indeléveis e impregnados em seu âmago. Todavia, a realidade é muitas vezes cruel. Depois de tudo, a vida continua... Cés"t la vie!!!!

E como tudo nesta vida continua, continuo a esperar por Thereza, mas está sendo em vão. Não posso sufocar-me em minhas lembranças, se ela não vem, quero vivenciar um novo e lindo amor. Aqui estou só, não solitário, e agora chegou o momento de esquecê-la e viver um novo amor. Caminho por estas areias, caminho, caminho, procuro por meu novo amor.

Por essas mesmas areias caminhava  Thomas,  quando,  há exatos sete verões encontrou Thereza, pela primeira e única vez. Os primeiros raios de sol anunciavam uma manhã de março límpida e quente, embora uma brisa refrescante esvoaçassem os cabelos longos e louros de Thereza. Aquela imagem jamais abandonara Thomas: Thereza vestida em um maiô tomara que caia azul turqueza e sobre ele, uma saída de banho de renda branca que deixavam à mostra pequenos pontos de seu bronzeado impecável. Combinados,  o cabelo louro com o chapéu de aba grande e de cor palha, os olhos azuis de Thereza - da mesma cor do maiô - emolduravam a perfeição de seu rosto e pareciam querer só para si todo aquele horizonte,  mas Thomas estava lá... 

As águas de março se foram. Já é abril! E a vida nos traz muitas coisas inesperadas! 

Thereza voltou! E revelou a Thomaz que está muito feliz! Jaqueline é o nome de sua felicidade! Sim! Jaqueline! Uma negra de lábios carnudos que deve estremecer Thereza de paixão!

Outras Therezas virão. Ou Jaquelines, não sei.


Luiz Arthur Montes Ribeiro
India Mara Dalavia Souza Holleben
Francine Amatenecks Cavagnari



Um comentário:

  1. ..."Um amor que fora tão breve..." Para ser "um grande amor" o tempo é diluído no espaço...

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